quinta-feira, 5 de outubro de 2017

E se você descobrisse que morreria na semana que vem, o que farias?


Há 10 anos eu rabiscava um texto cujo o título era “Um novo cinquentar”, na época eu ainda estava trabalhando em Telecom, morávamos em um apartamento e tínhamos uma cadelinha chamada Frida.
Meu texto foi embalado pelo amanhecer da chegada do já meio século de muitas idas e vindas, chegadas e partidas, encontros e desencontros, mudanças e escolhas, lágrimas e sorrisos e de passeios matutinos com a Frida, que gostava de carinho mas era muito tímida no carinhar.
Eu costumava dizer que se eu morresse antes da Frida, ela ficaria em uma situação difícil, pois a pequenina não saia de perto de mim, onde eu estava ela ia atrás como um “personal angel” canino a cuidar de seu “dono”. Frida partiu antes, creio que está no céu fazendo as pazes com Amora, que precocemente também partiu.
Não sei se isto acontece com todos que chegam aos 50 anos, mas naquele momento bateu em mim algo diferente dos outros aniversários, algo de recordações com pitadas de saudades daqueles, cuja separação geográfica e por razões diversas, se fez presente, daqueles que partiram para outras moradas da casa do pai e de momentos incríveis que permearam minha existência até então. 
Agora, na perspectiva da chegada dos “60”, há alguns dias, a Lu me perguntou:
- Não vais escrever nada para o sexagenário?
Confesso que isto me assustou, pois pela primeira vez percebi que se passaram dez anos desde a primeira metade, supondo que 50 seja uma metade plausível para algumas encarnações que tem a pretensão de só partir aos 100, uma “meta” que não leva em consideração as diretrizes firmadas na “pré” encarnação.
Fiquei pensando sobre a pergunta da Lu e há três semanas, em um determinado momento o qual estava assistindo uma palestra na casa espírita, a palestrante olhou para mim e me fez a seguinte pergunta:
- Se você descobrisse que morreria semana que vem, o que farias?
Olhei para ela, creio que um pouco atônito, e respondi:
- Eu não sei.
Esta pergunta ficou tatuada em minha mente, e desde então me vem com frequência como um enigma o qual eu preciso decifrar, independente da espiritualidade ou do grau evolutivo que eu pretensiosamente tenha alcançado.
Durante os últimos dez anos nossa vida mudou, estive professor por 5 anos, mudamos para uma casa que fica pertinho do Atlântico Sul, o Th do meio foi morar no vale europeu tupiniquim, me tornei o cozinheiro oficial da prole, e no tocante ao rango, redigi e aprovei a constituição culinária do lar , de parágrafo único, onde : todos tem o dever de comer o rango todo e o direito de nunca reclamar do mesmo. Um limite “imposto” para amenizar possíveis equívocos culinários.
E o que realmente mudou em mim nesses últimos 10 anos? Interessante pensar nisso neste momento de minha vida. Considerando as perspectivas de minha geração, pelo menos a maioria, nosso foco era programado visando a realizações materiais: estudar, arranjar um bom emprego, constituir uma família, ter filhos, carro, uma casa, se aposentar e ir morar perto do mar. Isso eu consegui, e daí? É isso? E depois, qual os novos desafios, as metas? Creio que o grande desafio é a busca perene do aprender e do reaprender com os mais velhos e com os mais jovens, é encontrar a espiritualidade relegada ao segundo plano, é encontrar a serenidade e o discernimento necessários para prosseguir a caminhada em um mundo cuja dinâmica, infelizmente, nos convida ao individualismo, a futilidade, ao consumo, a superficialidade e ao falso entendimento de que nossa materialidade não é efêmera.
Na soleira do Atlântico Sul descobri que:
- meu inferno é do tamanho de meu orgulho, de meu egoísmo e de minha vaidade e os degraus de minha evolução, um desafio dioturno, são: a gratidão, o perdão, a indulgência e a caridade
- acordar todos os dias, ouvir, cheirar, ver, caminhar, falar, sentir, respirar são dádivas que carecem de cuidados 
- não precisamos de muito dinheiro, o belo está no simples, cozinhar é um prazer, a paciência é sublime, a amizade é um tesouro, o amor rejuvenesce
- o vento e a lua fazem do mar um "ser" passional
- a visita anual das baleias é uma emoção que nos remete à infância
- o vento gelado que sopra do Sul me encanta 
- quem ama cuida, quem cuida doa
- minha outra metade existe e preenche minha solidão existencial.
Enfim, se eu morresse daqui a uma semana, em meu último “enta” definido pelo destino, pelo acaso ou quem sabe pelos desígnios de Deus, eu consiga ter alcançado o que está resumido na letra da canção do poeta:
“Já sei olhar o rio por onde a vida passa, sem me precipitar e nem perder a hora”
By Brother60

11 comentários:

  1. Parabéns pela reflexão! Textos como este são difíceis de ser encontrados. Escrever sobre a vida, com a "cabeça" dos sessenta atinge um público carente desse conhecimento.
    Identifiquei-me com o pensamento do Brother60

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  2. Lindo demais! Você é o Cara! Tenho-te em mim, hoje e sempre! Bjs

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  3. Um imenso prazer em ter o Bhother60 como amigo, pois assim, tenho o privilégio de poder desfrutar desses dizeres, pensamentos e sabedoria brilhante!você não existe amigo...
    Com carinho sua amiga Carlinha

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  4. Ja não é novidade que sou sua fã e gosto de tudo o que escreve. Tenho o privilégio de ser sua sobrinha. Obrigada por existir. Eu te amo tio, como um pai.

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  5. Lindas palavras!
    A vida !!! Um presente de Deus.
    Amar e entender nossos momentos aqui neste planeta é divino.
    Agradecer por tudo, é perceber que conseguimos realizar a nossa meta.
    Parabéns por esta reflexão e tenho certeza que será um alerta e consolo para muitos irmãos. Gratidão!!!!

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Caro Brother60 boa noite!
    Recebi o seu artigo, muito bem escrito por sinal, de uma amiga e gostaria de parabenizá-lo pelo excelente trabalho.
    Certamente você não se lembra de mim, mas vamos lá. sou o Jorge Amorim da SEIR que funciona no Areal/Taguatinga-DF. Sua esposa deve se lembrar pois frequentou nossa casa por muitos anos.
    Bem, o que me trouxe aqui foi a vontade de te parabenizar pelo belíssimo, e muito bem escrito, texto. Jóia rara que já não se encontra com facilidade hoje em dia. Confesso que me senti representado em suas reflexões.

    Um grande abraço e continue brindando as pessoas com essas belas reflexões.

    Jorge Amorim

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    1. Olá Jorge, com certeza lembro de ti, aliás vocês da SEIR sempre estão em nossas mentes e em nossos corações.
      Fico feliz em saber que meus rabiscos tenham algum significado para aqueles que nos são caros.
      Forte abraço.

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  8. Reforço o convite da Lu, quando quiseres passear na soleira do Atlântico Sul, nossa casa está a disposição.

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  9. Meu querido amigo, Giovanna me mandou o texto e li com muita emoção, porque me fez refletir sobre todos os anos felizes de convívio, do brother 4x, 5x e 6x.
    A vida é uma passagem rápida que a maturidade ensina o quanto devemos aproveitar mais e se aborrecer menos.
    Obrigado por esse texto. Obrigado por sua existência. Obrigado por ser essa pessoa singular.
    Parabéns e que Deus permita muitos e muitos Brother7x,8x,9x,10x.
    Que Deus te abencoe e obrigado pelo lindo e reflexivo texto.
    Bjs!
    Saudades!!

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