quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O condutor e a resiliência


Até a penúltima década do século XX, os profissionais de Telecom tinham uma visão “operacional” da Rede, ou seja, a gerência tratava basicamente de eventos de falha e era feita uma “insipiente” análise de desempenho.
Para não ferir egos e vaidades, digo que era “insipiente” porque a mesma era baseada em relatórios com eventos ocorridos há algum tempo. Algum dinossauro em Telecom, que leia meus rabiscos, deve lembrar das famosas reuniões mensais com a Embratel.
No final dos anos noventa e mais fortemente a partir do início do século XXI, nós profissionais de tecnologia, passamos a conviver, além da convergência das redes, com termos até então pouco conhecidos ou assimilados: indicadores, metas, análise de desempenho, redundância, contingência, segurança, resiliência, mitigação, gerência de rede, gerência do serviço, gerência do negócio, sua excelência o cliente, etc.
Atualmente, podemos dizer que o UP TO DATE tecnológico nos convida a novas terminologias, conceitos e tecnologias: Cloud, Virtualização, IoT, AI, Indústria Inteligente, Smart Grid, Smart Meetering, etc.
Vivemos no mundo da tecnologia disruptiva, da Biotecnologia, da virtualidade, onde cada vez mais são desenvolvidos algoritmos que visam permitir à Inteligência Artificial se transformar em um “Ser” criado por “osmose”, códigos, bits e chip’s.
Enfim, vivemos em um momento de profundas mudanças, novas perspectivas e muitas incertezas, pois cada vez mais “o futuro é uma astronave que não conhecemos e que tentamos pilotar” (plagiando e pegando carona na bela canção do Toquinho).
Vocês devem estar pensando:
- Onde esse cara quer chegar?
Vamos lá, Segurança X Contingência X Resiliência é a tríade básica de sustentação para qualquer serviço, ou prestação de serviço, notadamente aqueles cujos riscos são elevados pois implicam em perda de continuidade com consequências graves, ou perda de vidas. Nos últimos dias tivemos: Brumadinho, Ninho do Urubu e hoje a Supervia no RJ.
Pelo que foi divulgado na mídia, nas três ocorrências a “tríade” básica não foi contemplada; seja por incompetência, irresponsabilidade, corrupção ou omissão dos provedores do serviço, das empresas e do estado. Cabe ressaltar que implementar a “tríade” envolve pessoas, treinamento, sistemas, procedimentos e custos.
Segundo o Grande Gilson, um cara que conhece tudo de Gerência de Redes, no caso da Supervia é possível que o alarme não tenha subido ou a parametrização estava com o tempo muito longo. Um diagnóstico distante do entendimento comum.
Em Brumadinho, no Ninho do Urubu e na Supervia a não preocupação com o básico de gerência se traduziu em tristeza, angústia, sofrimento, desespero e morte.
Hoje assistimos em “real time” a luta incansável dos bombeiros para salvar Rodrigo, o condutor. Depois de quase oito longas horas Rodrigo foi resgatado, mas a resiliência humana, além de “algoritmos” biológicos, depende de outros “algoritmos” que alguns chamam de acaso, outros de destino e outros de desígnios do Pai. Foi um desfecho triste e solidário para uma ação tão nobre de tantos profissionais bombeiros.
Nas terras tupiniquins, tanto a Gestão privada quanto a Gestão pública, nas suas respectivas competências, não conseguem, no mundo da Virtualidade, da Cloud, da Biotecnologia, da Inteligência Artificial etc. aplicar os conceitos básicos para gerenciar infraestruturas e, por conseguinte, a prestação de serviços.
Diante desses fatos, infelizmente, parece que vivemos a era da gestão empresarial “disruptiva” que “patrocina” os poderes públicos cuja melhor definição de gestão é: promíscua.