quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Panair do Brasil ! As asas que não foram quebradas.

Lockheed L-049 Constellation pintado nas cores e marcas da Panair do Brasil no Museu TAM em São Carlos (SP).

Estávamos no ano de 1965, mais precisamente no dia 10 de fevereiro uma quarta-feira, eu e minha irmã estávamos ainda de férias escolar e meu pai estava retornando ao trabalho após as suas férias.
Vivíamos em um apartamento de dois quartos, alugado, em Jacarepaguá, meu pai acabara de comprar os móveis novos e eu brincava com o trenzinho elétrico que ele havia trazido de Manaus, juntamente com uma calça Lee, que tinha até joelheiras.
A situação do país estava muito ruim pois ainda sentíamos o amargor recente do golpe militar, e as perspectivas não eram boas. Minha mãe vivia preocupada com o pai pois ele era envolvido com questões do sindicato dos aeroviários e era totalmente contra o golpe militar, claro.
Neste dia meu pai demorou a retornar do trabalho, mas como a demora era o normal devido a sua profissão de mecânico de avião, não estranhávamos. Lembro que ele chegou bem tarde, cabisbaixo, triste e chamou minha mãe para conversar, lembro de frases como:
- E agora o que vou fazer, aluguel, despesas domésticas, os meninos?
- Como eles fizeram isso, como pode acontecer?
- Todo mundo perdeu o emprego.
Meu pai era um dos cinco mil funcionários da Panair do Brasil, que perderam o “chão” após a cassação do certificado de operação, uma falcatrua política/jurídica que envolveu também a Varig, conforme documentário exibido na Globonews em 04 de novembro de 2017. Coisas que permeiam os Poderes Tupiniquins até hoje e que parece ser um câncer que se faz perene e se recusa a “morrer”.
O que ocorreu com a Panair do Brasil foi algo inusitado e um fato totalmente desconhecido, ou escondido, da maioria da população brasileira. Quero crer que a galera que fica conclamando uma nova intervenção militar, também desconheça o fato, ou pior, concordam.
Resumidamente: A Panair do Brasil era a maior empresa aérea da América Latina, dona de cinco aeroportos no Brasil, a única empresa que levava assistência social aos povos indígenas da Amazônia através dos aviões catalinas, tinha escritórios na Europa e USA, voos nacionais e internacionais regulares, dona de uma avançada oficina de manutenção de motores, a CELMA, e ainda fornecia a infra de telecomunicações para Aeronáutica. Uma empresa de ponta nas terras tupiniquins. Teve sua operação cassada, em 1965, sem nenhuma fundamentação financeira ou jurídica tanto que em uma ação movida contra a União Federal, finalmente no ano de 1984 o STJ declarou que a falência da Panair fora fraudulenta e a União deveria ressarcir a Panair. Isto nunca ocorreu.
Os efeitos desta perniciosa ação, inconsequente e criminosa, afetou a vida de cinco mil famílias de pilotos, aeromoças, mecânicos e demais funcionários; perderam de um dia para outro, seus empregos sem entenderem o que estava ocorrendo, alguns cometeram suicídio. Quanto a nossa família, e deve ter ocorrido algo bem semelhante com as demais, cito alguns momentos:
- Meu pai, para conseguir a pão nosso de cada dia, foi trabalhar em uma oficina mecânica de automóveis ganhando quatro vezes menos,
- Meu pai foi na loja que havia comprado os móveis e conversou com o dono da loja sobre sua situação e disse que não poderia pagar a prestação dos móveis. O dono da loja disse: não se preocupe, fique com os móveis e me pague quando puder,
- Um mês após a “demissão” de meu pai, ele chegou em casa preocupado, pois não teria dinheiro para arcar com as dívidas do mês, ao falar como minha mãe ela disse, não se preocupe pois o dinheiro de teu décimo terceiro e férias, eu guardei não foi gasto
- Fui algumas vezes com meu pai, apanhar nas instalações da Panair, a cesta básica que foram doadas aos funcionários, por algum tempo.
- Meu pai, como outros trabalhadores da Panair foi a julgamento civil/militar. No dia do julgamento não sabíamos se ele voltaria para casa. Durante a audiência o juiz perguntou ao Paulo Sampaio, presidente da Panair:
- O Sr. sabia que em sua Companhia havia uma célula comunista?
Ele respondeu:
- Meritíssimo em nossa Companhia não tem comunista, tem cinco mil famílias trabalhando em prol de uma empresa  
Os funcionários da Panair foram absolvidos.
- O dono do apartamento, onde morávamos, pediu o imóvel e ficamos sem ter para onde ir. Meu padrinho, tio, irmão de meu pai, que também era mecânico de avião na Panair e um ser humano fantástico, nos acolheu em sua casa. Uma casa de quatro quartos onde moravam cinco pessoas, meus tios e primos, fomos nós quatro também morar.
Os anos passaram, muitos outros desafios foram superados e hoje estamos aqui, meu velho pai tem 92 anos e minha mãe também, estamos bem.
 “Todo mundo quando lembra a ditadura, lembra com razão da tortura, das mortes, da violência contra os partidos políticos, mas pouca gente presta atenção na violência jurídica, a violência jurídica não sai sangue, mas é tão grave quanto a outra violência, a violência jurídica é disfarçada ela se dissolve, as pessoas não acompanham” Artur da Távola.
A violência jurídica é algo sistemático nos poderes nacionais, não importando suas pobres ideologias.
Eu, meus pais, a Lu os Ths mais velho e o do meio, assistimos o documentário pela Globo News, mas ele está disponível no Youtube, no link abaixo. Convido vocês a também conhecerem a Família Panair.
Panair do Brasil, um exemplo de Gestão e empreendedorismo, que na época (ha mais de 50 anos) incomodou muita gente.

https://www.youtube.com/watch?v=e1A9W_9xSts

By Brother60.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Eu não preciso de outro herói!

A grande maioria de nós tem a “necessidade” de reverenciar heróis ou ídolos.
Dentre esses, nos identificamos com cantores, atores, esportistas, políticos (por mais estranho que isso possa parecer), poetas, escritores e personagens diversos.
Sinceramente eu não tinha essas referências, mas há algum tempo eu também encontrei meu herói.
Um ser que surgiu como resultado de uma experiência científica, cresceu em um lar de “humanos” e assimilou nossa maneira de viver. 
Infelizmente como o “homo sapiens”, desde sua Aurora, se notabilizou em destruir fauna e flora, meu herói também sofreu as consequências desta marcante característica humana.
O destino de meu herói foi embalado e traçado para defender seu povo, que ficou a mercê da evolução produzida em laboratório e sofrendo as mazelas impostas pelos ditos humanos.
Meu herói teve uma existência repleta de desafios, superação, resignação e muita luta para manter seu povo unido, livre e sem opressão.
Meu herói se viu diante de decisões que o levavam ao extremo da escolha, e uma delas que o marcou de modo profundo, foi morrer ou matar o velho companheiro que se rebelou de forma violenta contra aqueles que o violentaram de forma tão brutal. Terminou traindo meu herói, o amigo de longa jornada, foi “Judas” tentando ser “O Príncipe”.
Meu herói conduziu seu povo com dignidade, amor, dedicação, determinação, fé, perseverança e honestidade, sentimentos e virtudes tão raras em nosso mundo contemporâneo.
No fim de sua jornada, como um sapiens, meu herói deixou o ódio superar sua missão de líder, após sua mulher e seu filho perderem a vida devido a inconsequente atitude humana e sofreu as consequências de sua opção.
O ódio de meu herói, por desígnio da “fatalidade” que abateu seu algoz, não comprometeu seu destino e com a ajuda da natureza cumpriu sua missão e libertou seu povo.
Meu herói tinha espírito de guerreiro e o coração de um grande líder, meu herói não morreu de overdose, morreu por amor a seu povo.
By Brother 60.