Estávamos retornando ao Pântano, após nosso encontro das segundas no GEBEN, quando acertamos a comemoração dos 37 anos de casamento. Optamos pelo almoço no Mandala ao invés de nosso tradicional jantar comemorativo da data devido a algumas questões, vamos dizer, de nosso cotidiano.
De repente a
Lu disse:
- Sabias que
este ano também vamos comemorar os quarenta anos de nosso primeiro encontro,
nosso primeiro beijo.
Eu disse:
- É mesmo
Ela comentou:
- Não irás escrever
nada sobre a data?
- Eu....????
O ano era
1982, o mês dezembro e eu me preparava para passar o ano novo no RJ, haviam
passados três anos desde o dia que cheguei para trabalhar no Rio Grande do Sul,
e durante esse período conheci várias cidades gaúchas. O bah, barbaridade, piá,
prende o grito, tchê, tri, pechada, magrão etc, já faziam parte de meu vocabulário
e de churrasco em churrasco comemorávamos os amigos e a vida.
A princípio
pensava que retornaria para o quarto ano nos pampas, mas minha empresa decidiu
me transferir para Brasília. No início fiquei surpreso e triste, pois a
gauchada já era tudo brother, mas minha vida profissional era assim, um período
no sul , outro em Brasília , outro em Manaus, outro na Argentina, outro no RJ e
por aí vai.
Em 03 de
janeiro de 1983 eu, o Luiz e seu fusquinha partimos para o DF. Foi uma viagem
com direito a enchente em BH e nossa descoberta que o fusca também andava
debaixo d’agua , literalmente.
Ao chegar em
Brasília me senti tipo “Santo Cristo”, com a beleza da cidade e as luzes de Natal.
Brasília tem uma estrutura de cidade bem diferente das que eu conhecia, não tem
bairro , tem cidade satélite, não tem rua, tem quadra e aos poucos vamos
entendendo os eixos W e L, as SQN e SQS, as QI e as QE, setor hoteleiro, setor
de farmácias etc.
O Luiz já
havia me falado que a família de seu tio morava em Brasília e no primeiro final
de semana encontramos com a parentada no Conjunto Nacional. Estavam o Lula, a
Zilda, a Jurema e uma amiga (que moram no RJ), o Henrique e a Lu, que não deu a
mínima para mim, mas quando a vi lembrei de um verso da música da dupla gaúcha
K&K :
“Tens um
não sei o que de paraíso”.
Os dias foram
passando, a rotina do trabalho e eu me familiarizando com o cotidiano de Brasília,
aquela coisa de clube, barzinho , parque da cidade e festinhas.
Era 05 de
março de 1983, eu e Luiz combinamos de ir à boate Sunshine no Gilberto Salomão.
Ele iria antes na festa de aniversário de um aninho da Fernanda, que é filha de
sua prima Lucimar. Me falou que quando saísse da lá me telefonaria para me
pegar na 308 F.
Passava das
nove da noite quando o Luiz me ligou dizendo que estava saindo do Guará e eu
falei blz, manda um beijo para tua sobrinha, então ele disse algo que não
entendi:
- Ela vai
comigo e desligou.
Não entendi
pois o beijo era para Fernanda, enfim.
Fiquei
esperando o Luiz na portaria do bloco e para minha surpresa quando ele chegou a
Lu estava junto. Fiquei um tanto quanto surpreso e feliz.
Partimos para
o Gilberto Salomão, no fusquinha, entre conversas, sorrisos e olhares.
Entramos na
Sunshine, sentamos e entre uma dose de whisky e uma dose de martini conversávamos como se a
música e o barulho do ambiente não existissem.
Eu ficava
olhando a Lu, seu rosto, seu olhar, seu pequeno nariz, seus lábios e aquela sensação
gostosa foi tomando conta de minha mente
e de meu coração.
Em um dado
momento falei para Lu:
- Eu queria te
dar uma beijo, mas estou meio envergonhado por causa de seu primo.
Ela disse:
- Não liga
para meu primo não.
Então o
momento mágico aconteceu, nosso primeiro beijo, doce, suave, envolvente,
indescritível.
Fiquei
pensando em algo para descrever este momento, e encontrei nos versos do poetinha Vinícius de Morais:
“Vou dormir
querendo despertar
Pra depois
de novo conviver
Com essa
luz que veio me habitar
Com esse
fogo que me faz arder”
Lu, tenho-te em mim , hoje e
sempre.