quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Um beijo de quarenta anos


Estávamos retornando ao Pântano, após nosso encontro das segundas no GEBEN, quando acertamos a comemoração dos 37 anos de casamento. Optamos pelo almoço no Mandala ao invés de nosso tradicional jantar comemorativo da data devido a algumas questões, vamos dizer, de nosso cotidiano.

De repente a Lu disse:

- Sabias que este ano também vamos comemorar os quarenta anos de nosso primeiro encontro, nosso primeiro beijo.

Eu disse:

- É mesmo

Ela comentou:

- Não irás escrever nada sobre a data?

- Eu....???? 

O ano era 1982, o mês dezembro e eu me preparava para passar o ano novo no RJ, haviam passados três anos desde o dia que cheguei para trabalhar no Rio Grande do Sul, e durante esse período conheci várias cidades gaúchas. O bah, barbaridade, piá, prende o grito, tchê, tri, pechada, magrão etc, já faziam parte de meu vocabulário e de churrasco em churrasco comemorávamos os amigos e a vida.

A princípio pensava que retornaria para o quarto ano nos pampas, mas minha empresa decidiu me transferir para Brasília. No início fiquei surpreso e triste, pois a gauchada já era tudo brother, mas minha vida profissional era assim, um período no sul , outro em Brasília , outro em Manaus, outro na Argentina, outro no RJ e por aí vai.

Em 03 de janeiro de 1983 eu, o Luiz e seu fusquinha partimos para o DF. Foi uma viagem com direito a enchente em BH e nossa descoberta que o fusca também andava debaixo d’agua , literalmente.

Ao chegar em Brasília me senti tipo “Santo Cristo”, com a beleza da cidade e as luzes de Natal. Brasília tem uma estrutura de cidade bem diferente das que eu conhecia, não tem bairro , tem cidade satélite, não tem rua, tem quadra e aos poucos vamos entendendo os eixos W e L, as SQN e SQS, as QI e as QE, setor hoteleiro, setor de farmácias etc.

O Luiz já havia me falado que a família de seu tio morava em Brasília e no primeiro final de semana encontramos com a parentada no Conjunto Nacional. Estavam o Lula, a Zilda, a Jurema e uma amiga (que moram no RJ), o Henrique e a Lu, que não deu a mínima para mim, mas quando a vi lembrei de um verso da música da dupla gaúcha K&K :

“Tens um não sei o que de paraíso”.

Os dias foram passando, a rotina do trabalho e eu me familiarizando com o cotidiano de Brasília, aquela coisa de clube, barzinho , parque da cidade e festinhas.

Era 05 de março de 1983, eu e Luiz combinamos de ir à boate Sunshine no Gilberto Salomão. Ele iria antes na festa de aniversário de um aninho da Fernanda, que é filha de sua prima Lucimar. Me falou que quando saísse da lá me telefonaria para me pegar na 308 F.

Passava das nove da noite quando o Luiz me ligou dizendo que estava saindo do Guará e eu falei blz, manda um beijo para tua sobrinha, então ele disse algo que não entendi:

- Ela vai comigo e desligou.

Não entendi pois o beijo era para Fernanda, enfim.

Fiquei esperando o Luiz na portaria do bloco e para minha surpresa quando ele chegou a Lu estava junto. Fiquei um tanto quanto surpreso e feliz.

Partimos para o Gilberto Salomão, no fusquinha, entre conversas, sorrisos e olhares.

Entramos na Sunshine, sentamos e entre uma dose de whisky e uma dose de martini conversávamos como se a música e o barulho do ambiente não existissem.

Eu ficava olhando a Lu, seu rosto, seu olhar, seu pequeno nariz, seus lábios e aquela sensação  gostosa foi tomando conta de minha mente e de meu coração.

Em um dado momento falei para Lu:

- Eu queria te dar uma beijo, mas estou meio envergonhado por causa de seu primo.

Ela disse:

- Não liga para meu primo não.

Então o momento mágico aconteceu, nosso primeiro beijo, doce, suave, envolvente, indescritível.

Fiquei pensando em algo para descrever este momento, e encontrei nos versos do poetinha Vinícius de Morais:

“Vou dormir querendo despertar

Pra depois de novo conviver

Com essa luz que veio me habitar

Com esse fogo que me faz arder”

                                                    Lu, tenho-te em mim , hoje e sempre.