sexta-feira, 10 de setembro de 2021

A namorada! Aquela que foi, sem nunca ter sido.

                                                    Ilustração: https://tharsoduarte.com/


Estava revendo alguns escritos antigos, e encontrei o abaixo, na época um amigo me disse:

- Muito bom! O melhor de todos...e as músicas exatas!!

Fiquei feliz pois raramente recebo Feedback de meus escritos. Espero que vocês também gostem.

" Era fevereiro e ele estava há poucos meses na cidade.

Saiu do trabalho no final da tarde e resolveu voltar a pé para o apartamento, afinal eram apenas quatro quilômetros e a temperatura amena era um convite à caminhada.

No início do percurso ficou observando as avenidas largas, as ruas arborizadas e o pequeno fluxo de carros.

Algo bem diferente da cidade natal, que já estava sob o signo do stress, da violência e do caos.

Observou também as pessoas do local, que era tipo uma “torre de babel” do regionalismo nacional, o “dialeto” local era carregado dos mais variados sotaques e expressões, algo novo para ele, até então.

Passados alguns minutos de caminhada, viu que na sua frente havia um carro aguardando a abertura do sinal para entrar na avenida principal, nesse havia duas mulheres e ambas olhavam para ele. Falavam algo e sorriam.

Ele passou pelo carro, não resistiu, e voltou.

Chegou na janela e disse:

Vocês estão sorrindo de mim ou sorrindo para mim?

A mulher que estava no banco do carona sorriu e disse:

Estamos sorrindo para você.

Ele ficou surpreso e até sem saber o que falar, ela sorriu mais uma vez e disse:

Vamos nos encontrar no Pub hoje à noite, lá pelas 21 horas, estarei te esperando.

Ele só conseguiu responder:

OK.

O sinal abriu e elas se foram.

Ele ficou meio atordoado, tipo assim: me belisca para eu saber se é verdade.

A mulher não era tão jovem, devia ter uns 40 anos, e ele tinha 23.

Ela era bonita, tinha os cabelos ondulados que chegavam até os ombros, era morena, tinha os lábios carnudos e nariz afilado, um sorriso estonteante e sardas deliciosas nos ombros.

Não viu seus olhos pois ela estava usando óculos de sol.

Por alguns momentos essa imagem tomou conta de sua mente, como que um flashback do fato há pouco ocorrido.

Ele chegou no apartamento e foi para o quarto.

Eram 18 horas e ela marcou às 21 horas.

Essa mulher está de sacanagem comigo, pensou.

Bem é sexta feira, estou de bobeira e não tenho nada para fazer.

Vou até o Pub e se não der em nada pelo menos vou conhecer o lugar e quem sabe pode até rolar alguma coisa interessante.

Ele tomou banho, escolheu a roupa, o que não foi muito fácil pois sempre há a preocupação do excesso ou escassez na formalidade do vestir, afinal havia a possibilidade de acontecer um “primeiro encontro”.

Ele colocou uma calça jeans, uma camisa de fibra com algodão, um sapato esporte. Passou o perfume preferido e partiu.

O Pub era perto de seu apartamento e ele foi caminhando.

Chegou no Pub e já havia uma quantidade razoável de pessoas.

O lugar era bem interessante com música ao vivo, poltronas com mesinhas espalhadas no ambiente e aqueles banquinhos em volta do balcão onde servem as bebidas.

Ele chegou, deu uma olhada geral e não viu a balzaquiana misteriosa.

Resolveu pedir um whisky e ficar curtindo o som do conjunto que tocava Stairway to Heaven.

Os carinhas mandam bem, pensou.

De repente, alguém tocou em seu ombro e disse:

Oi!

Ele se virou e quase caiu do banquinho.

Ela sorriu e disse:

Tudo bem?

O seu sorriso era tão mágico quanto o mundo de Oz e seus olhos eram verdes/castanhos claros/cinza, algo que reluzia como um “arco íris” contemporâneo.

Ele quase não conseguiu retribuir com um “Oi”.

Ela disse: vamos para uma mesinha?

Ele disse: claro

Ela foi andando na frente e ele atrás.

Ele ficou observando seu vestido, seu corpo e seu andar.

O vestido dela era cinza bem claro, com certo nível de transparência e seu corpo era generoso.

Ela escolheu uma mesinha e lá ficaram.

Ele a observou mais de perto, ela usava pulseiras e brincos artesanais, pouca maquiagem, somente um batom básico, unhas bem tratadas e também tinha uma pulseirinha enrolada no tornozelo que ornamentava os pés tratados em Podólogas.

O conjunto da obra era, vamos dizer, fascinante.

A conversa começou a fluir e o assunto passeava por amenidades, política, cidade, pessoas, música, cinema e sobre a vida.

Ela, em alguns momentos enquanto conversavam, mordia de leve o lábio superior e outras vezes o inferior.

Tinha uma sensualidade estonteante.

Ela bebia coquetel de frutas, ele continuou no whisky e pensava:

Essa mulher é um enigma.

O conjunto foi substituído por um carinha com um violão e agora só rolava MPB.

De repente o carinha manda:

E por falar em saudade onde anda você
Onde andam seus olhos que a gente não vê
Onde anda esse corpo
Que me deixou louco de tanto prazer
E por falar em beleza onde anda a canção
Que se ouvia na noite dos bares de então
Onde a gente ficava, onde a gente se amava
Em total solidão
Hoje eu saio na noite vazia
Numa boemia sem razão de ser
Na rotina dos bares, que apesar dos pesares,
Me trazem você
E por falar em paixão, em razão de viver,
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares, na noite, nos bares
Onde anda você? By Vinícius

Eles se olharam, e o brilho dos olhos denotaram o desejo da boca, O Beijo, e o beijo foi longo, intenso, doce, sensual, único.

O papo continuou, entre sorrisos e outros beijos.

Em um determinado momento, lá pelas 3 horas da manhã, ela pegou sua mão e disse:

Vamos dançar?

Ele estranhou, pois embora o Pub já estivesse bem vazio, não havia lugar para dançar, mas como ela pediu, ele se levantou e foram dançar ao som de Tigresa, by Caetano.

Ao acabar a música ela o abraçou fortemente, beijou novamente seus lábios, deu uma mordidinha suave na pontinha de sua orelha e sussurrou  :

Obrigado por essa noite incrível, vou sentir saudades.

E foi embora.

Ele se sentiu como que atropelado por um caminhão, ficou parado, atônito.

Voltou para mesa, tomou outro gole e pediu a conta.

Outra surpresa, pois o garçom lhe disse:

Senhor, a conta já foi paga.

Ele nunca mais a viu,  mas isso não importa pois simplesmente aconteceu.

Um lugar, um momento, duas pessoas, algo para se guardar e lembrar de vez enquanto.

Ah,... essas mulheres.

Seus desejos, seus segredos, seus medos, seus amores.

Há poesias e letras de músicas que transmitem situações cuja percepção é individual, pessoal, pois está diretamente ligada a vivência e experiências de cada um.

A música no link abaixo, talvez, resuma a emoção deste momento efêmero nesta pequena estória, ou seria história?

https://music.youtube.com/watch?v=8VJVnA6Kkm8&feature=share

By Brother51º