domingo, 20 de dezembro de 2020

Como será o amanhã?

                                            Ilustração Tharso Duarte - tharsoduarte.com

A meia noite do dia 31 de dezembro de 2019, estávamos comemorando o fim de um ano e o início de mais um ano, 2020. Brindamos com amigos e familiares, assistimos ao espetáculo pirotécnico da queima de fogos, fizemos vários posts em redes sociais, pulamos as ondinhas na praia, fizemos várias reflexões e “promessas” visando um upgrade no nosso corpo e no nosso espírito. 
Chegou o carnaval, e tudo parecia estar dentro da “normalidade” existencial de nossos tempos, mas, de repente surge a notícia: 
- O VÍRUS 
A população, de nosso pequeno planeta, ficou atônita diante do que estava ocorrendo. Na Ásia, Oceania, África, Europa, Américas, nosso algoz chegou silenciosamente, “democraticamente”, para pobres, ricos, brancos, negros, pardos, amarelos, católicos, espíritas, mulçumanos etc. Holisticamente nos impôs a doença, suas consequências e mesmo após 10 meses continua, inexoravelmente, com sua “ira”, provocando seus efeitos: mortes, desemprego, isolamento, incertezas, depressão, etc e também desafiando a capacidade de gestão, responsabilidade, honestidade e coerência dos poderes públicos, no que poderíamos chamar de: a “dicotomia” saúde&economia.
Diante deste cenário, o mundo sentiu na pele a urgência de um planejamento de políticas de estado únicas, coerentes com a realidade da Pandemia, o que infelizmente não ocorreu, em alguns países, notadamente nas terras tupiniquins. O “modus operandi” da humanidade foi alterado drasticamente e o “prejuízo” econômico, social e humano, tornou-se universal.
Em contrapartida descobrimos que nossos heróis, vestem jalecos brancos, macacões azuis, ou verdes ou amarelos e como “Dom Quixotes” enfrentam um inimigo, invisível, perigoso e cruel, em uma luta incansável para preservar nossas vidas, mesmo diante de tantas dificuldades, falta de apoio e descaso por parte daqueles que deveriam prover os recursos mínimos necessários, no tocante ao SUS, diante de uma situação tão crucial. 
Nossos heróis são de carne e osso, também morrem e precisam urgentemente de nossa ajuda, nosso isolamento social, nossa utilização perene de álcool, máscara, sabão e água. Nossos heróis precisam de nossa sensatez, nossa coerência, nossa lucidez, nosso amor e respeito da vida de um para com o outro. Se não o fazemos por nós, que façamos por eles que merecem nosso respeito, nossa admiração, nossa gratidão. 
No momento estamos na perspectiva da cura que a vacina irá nos proporcionar, algo que trouxe uma discussão surreal e irresponsável entre os “poderes”, na “terra brasilis”, e independente de posicionamentos bizarros não podemos esquecer que será um processo lento, que nossa “redenção” ainda irá demorar e as mazelas causadas pelo vírus permanecerá, com menor ou maior intensidade, em 2021. 
Aos médicos, enfermeiros, técnicos, infectologistas, enfim aos profissionais de saúde, nosso eterno muito obrigado. 
Para a humanidade, resta a difícil e perigosa reflexão:
 - Como será o amanhã?
A resposta está dentro de nossas mentes e em nossos corações.
Neste Natal, neste final de 2020, #fiqueemcasa.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Rabiscando os 63.

                                               Foto do mago das lentes Milton Ostetto

Quando fiz cinquenta anos, rabisquei umas frases intituladas: Um novo Cinquentar.

Quando fiz sessenta anos, rabisquei outras frases intituladas: E se você descobrisse que morreria na semana que vem, o que farias?

Neste embalo, iria rabiscar outras frases aos setenta anos, mas a ressignificação oferecida pela Pandemia me fez, também, rabiscar os 63.

O momento atual se tornou “fértil” para as mais variadas "crises" existenciais, que oscilam entre pessimismos, otimismos e até indiferenças, e dependem de uma quantidade enorme de variáveis que deixaram de atender nossas expectativas e novas variáveis que nos desafiam ao reaprender fomentado pelas exceções, entendendo a palavra como : desvio de um padrão estabelecido, rompimento do que se considera normal.

Nas terras tupiniquins, pensando em políticas públicas, a Pandemia teve “conotações” das mais diversificadas, surpreendentes e irresponsáveis, possíveis; e aqui não irei mencionar os devaneios do governo federal que extrapolaram, o que resumirei bondosamente, em : inexistência de bom senso, ou seja, falta de equilíbrio nas decisões ou no julgamento em cada situação que se apresenta.

Desde março, sonhos não foram realizados, projetos foram interrompidos, negócios foram cancelados, empregos foram perdidos, o stress profissional migrou para o lar, ratificamos o convívio como nosso maior desafio, vidas "anteciparam" suas mortes, o virtual se fez onipresente, o recomeçar se fez desafiador, o início ficou bem mais difícil.

Desde março, somos testemunhas e/ou atores de belas ações de solidariedade, de mobilizações para ajudar aos mais carentes e vulneráveis, de uma demonstração universal do profissionalismo e dedicação dos trabalhadores da saúde frente a Pandemia.

Desde março o CH3CH20H e suas nuances tornaram-se nosso aroma predileto e a máscara, das mais variadas "versões", tornou-se item obrigatório de nosso vestuário.

Desde março, os defensores e praticantes do modelo liberal mundial estão "aprendendo" que saúde, assistência social e educação, notadamente, não "sobrevivem" sem ajuda e ações daqueles que governam, independente de frágeis ideologias.

Desde março, somos personagens de uma possível ficção, do grande Saramago, na vida real.

No vivenciar dessas situações e respectivas consequências, o que mais me surpreende, diante da Pandemia, é o comportamental humano no tocante ao que eu chamaria de: a dicotomia do ser.

Uma parte da população assimilou a necessidade de uma visão holística do mundo, o olhar para com o outro, a solidariedade, a compaixão, a doação. A certeza de que o “eu” sem “você”, nos remete a um mundo efêmero, sem perspectivas, sem evolução, sem sentido.

Outra parte da população acredita que a terra é plana, uma 460 S&W Magnum nos livra de todo o mau/mal, a Pandemia é um resfriado, usar máscaras é para os fracos etc. A certeza de que o “eu” sem “você”, nos remete a um mundo perene, seguro, soberano, evoluído, perfeito.

E uma outra parte não concorda e nem discorda, muito pelo contrário, o importante é o que interessa, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Independente de posicionamentos tão paradoxos, a Pandemia nos obrigou a encarar nossas incoerências, nossa “teogonia” (pensando na criação do universo), nossa relação com a solidão, nossa unicidade, nossos anjos e nossos demônios, nosso “equilíbrio” entre o desejo e a necessidade. Com a chave na mão queremos abrir a porta, mas depois da porta só há incertezas.

Diante deste contexto, como seremos/estaremos na “pós” Pandemia? Sinceramente não arrisco palpites. Diante de algumas evidências e informações, prazos de validação, produção, insumos, logística etc., provavelmente teremos uma opção de vacina mais abrangente nos meses de abril, maio de 2021 e no futuro deveremos ter um combo HIN1&COVID19, ou algo similar, anualmente. Ainda estaremos embalados pelo vírus nos próximos 7, 8 ou 9 meses e até lá muitas surpresas poderão nos impor antigos e novos desafios.

Com certeza toda esta "angústia" passará, e restará a cada um de nós algo a "ressignificar" em nossas vidas, ou não. Enfim, o que eu aprendi nesses tempos de Pandemia aos 63 anos? Sem ser piegas, confesso: estou aprendendo a falar com Deus.

https://www.youtube.com/watch?v=jRY0O7t_Bpc

 

domingo, 16 de agosto de 2020

A "Influencer" Guerreira da Idade Média.

 

A Lu estava em um evento virtual, aliás entendo eventos virtuais como: “Eventos onipresentes contemporâneos”, e em função do tema abordado sugeriu assistirmos um filme sobre a vida de Joana d’Arc.

A história da guerreira santa é bem conhecida pela grande maioria e eu já havia visto algumas películas sobre sua vida, mas pensei:

- Por que não rever a história da Joana?

Comecei a procurar no “Oráculo” um filme sobre a guerreira e achei um filme francês produzido em 1999: The Messenger: The Story of Joan of Arc.

Falar de temas que envolvem religiões, poderes, fé, crenças, santas, guerras etc quase sempre implica em criar polêmicas, mas como o filme inundou minha mente de reflexões, inquietações e lucubrações, vou arriscar, ressaltando que minhas divagações são baseadas no filme e podem não corresponder a realidade dos fatos ocorridos na época.

O filme começa em 1420, na época da longa treta entre ingleses e franceses, algo tipo palestinos e judeus, que rolou durante 100 anos. Joana estava com oito anos e já tinha os insights celestiais pouco comuns aos “mortais”. Em um ataque desferido pelos ingleses a sua vila, Joana perde sua irmã de forma brutal e a partir deste momento sua relação com a vida terrena e espiritual muda de forma radical.

Joana começa a viver em “transe” entre o céu e a terra, entre visões e chamamentos, iniciando sua missão inspirada na libertação de seu povo oprimido, em função da relação de poder reinante na época, ou seja: Povo, Igreja e Monarquia.

Joana lidera o exército francês, e por acaso, destino ou desígnios divinos, mesmo muito jovem, inspira homens rudes ao ideal patriótico, alcançando vitórias em batalhas sangrentas. Com certeza nesta época éramos um pouco mais “bárbaros”.

Independente da trajetória de nossa heroína, durante a película, o que mais me instigou a reflexão foi seu momento derradeiro, período o qual passou no cárcere à espera da morte. Seu diálogo seria introspectivo ou com seu “inquisitor” celestial?

Este momento me lembrou o filme A Paixão de Cristo, dirigido por Mel Gibson, quando o emissário das trevas ficava “enchendo o saco” de Jesus, em seus momentos de sofrimento, tentando induzi-lo a questionamentos e dúvidas existenciais. Afinal, profetas e santos são humanos enquanto encarnados.

Na solidão do cárcere a guerreira santa põe em dúvida sua motivação divina. Afinal o quanto suas “fraquezas” humanas: orgulho, vaidade, raiva, dor se confundiam com sua fé, sua santidade, suas verdades? Seria ela uma mensageira santa ou uma guerreira vingativa?

Joana morreu na fogueira aos dezenove anos, por vingança de um monarca inglês orgulhoso, vaidoso e cruel, por omissão de um monarca francês desprezível e covarde, pela hipocrisia de uma igreja que a condenou e depois a canonizou, mas absolvida por sua consciência ou por seu “inquisitor” divino.

Independente de sua santidade, Joana inspirou seu povo a acreditar, a ter esperança, a lutar para resgatar aquilo que era seu de direito. Foi uma “influencer” de seu tempo e sofreu as consequências de sua ousadia em desejar um mundo justo e fraterno para todos.

sábado, 25 de julho de 2020

“THIS IS US” OR WOULD IT BE “WHO ARE WE”



Há alguns dias, o TH do meio e a Aline estavam nos visitando e entre um papo e outro ele me disse:

- Você já viu THIS IS US?

Respondi:

- Não

Então ele fez uma breve abordagem sobre a série e disse que eu iria gostar.

Bem, passaram alguns dias eu e a Lu começamos a assistir a série no Prime vídeo Amazon. Já assistimos várias séries nos mais diversos aplicativos e até então a que mais havia nos “envolvido” tinha sido Breaking Bad, mas TIHS IS US é algo mágico.

A série é muito bem escrita, com diálogos envolventes e apresentada em uma sequência entre o presente e o passado, visando e entendimento do que eu chamaria de: “o comportamental humano” na família e fora da mesma. Aliás a Pandemia está nos propiciando um belo laboratório existencial do tema.

O que me impressiona na séria é a maneira na qual são abordados temas como: racismo, dependência química, sexualidade, adoção, criação, relacionamento entre os casais etc.

Interessante ver na ficção o quanto as relações humanas influenciam nossa maneira de ser, o quanto uma pessoa pode ter influenciado na sua vida, e você na dela, sem terem nenhuma consciência dessa influência. O quanto nossas atitudes, o quanto o que foi dito e o que não foi dito, o quanto nossas mentiras e nossas verdades podem influenciar positivamente ou negativamente na vida do outro.

Interessante ver na ficção o quanto somos responsáveis pelo sucesso ou fracasso de nossa vida conjugal. Creio que toda “mulher” procura um Jack e todo “homem” procura uma Rebbeca, para um relacionamento que não permita o tédio da mesmice do cotidiano, que perpetue o tesão do primeiro encontro, que mantenha a amizade que fortalece a união e o auxílio incondicional nos momentos difíceis.

Interessante ver na ficção como nossos filhos adotam nossos exemplos, nossas atitudes ou nossos gestos; que podem eternizar, neles, frustações, medos, incertezas ou determinação, segurança, certezas.

Enfim, THIS IS US me proporciona reflexões inimagináveis em minha “envelhescência”, algo que a sétima arte nos oferece de maneira brilhante.

Vale conferir!

 


sábado, 20 de junho de 2020

Todo tempo tem seu momento


Nas areias do Pântano do Sul

Todo tempo tem seu momento
Todo momento tem seu tempo
Um despertar buscando sentidos
O leite farto nos seios materno 
A fonética engraçada das primeiras palavras
Um tudo tocar, um tudo sentir, um tudo saborear
Cada momento um redescobrir
Cada tempo um novo caminhar

Todo momento tem seu tempo
Todo tempo tem seu momento
O cão vagando pela rua
O sabor da água da chuva 
O cheiro da terra molhada
Gente em movimento
Um querer constante, um querer querendo
Cada momento um redescobrir
Cada tempo um novo caminhar

Todo tempo tem seu momento
Todo momento tem seu tempo
O pão e o leite no portão
O aroma suave do café passado 
A sala de aula, a professora querida
O amiguinho, a amiguinha
Brinquedos e brincadeiras
Um mundo lúdico a desafiar
Cada momento um redescobrir
Cada tempo um novo caminhar

Todo momento tem seu tempo
Todo tempo tem seu momento
A pipa, o balão
A bola de gude, o pião
A pelada ao entardecer
O pique esconde
Pera, uva ou maçã?
O primeiro "eterno" amor
Cada momento um redescobrir
Cada tempo um novo caminhar

Todo tempo tem seu momento
Todo momento tem seu tempo
Espinhas, cheiros e pelos
Hormônios a inquietar
Um desafinar entre graves e agudos
Um dormir ansioso, um despertar preguiçoso 
O cabelo, a calça, a camiseta, o tênis
O ensino médio, a Academia para se empregar
Cada momento um redescobrir
Cada tempo um novo caminhar

Todo momento tem seu tempo
Todo tempo tem seu momento
O primeiro emprego
O primeiro dinheiro
O primeiro carro
Festas, galeras
Viagens, passeios
Um dia aqui, outro lá 
Cada momento um redescobrir
Cada tempo um novo caminhar

Todo tempo tem seu momento
Todo momento tem seu tempo
Alguns dias amores, outros não
Amores Inverno, estranhos, possessivos, paixão
Amores Primavera, belos, suaves, perfumados
Amores Verão, passionais, quentes, lascivos, tesão
Amores Outono, fortes, duradouros, frutíferos
Cada momento um redescobrir
Cada tempo um novo caminhar

Todo momento tem seu tempo
Todo tempo tem seu momento
O envelhecer perene
40, 50, 60 
O entender de que o hoje não é como o ontem
Que o futuro é o "somatório" do passado
Que o agora é uma benção
Que o amanhã será maravilhoso
Cada momento um redescobrir
Cada tempo um novo caminhar

Todo momento tem seu tempo
Todo tempo tem seu momento
Um reaprender existencial
Família e amigos
Lugares, pessoas e paisagens
O ciclo eterno entre "berços" e "túmulos"
Cada momento um redescobrir
Cada tempo um novo caminhar

sábado, 9 de maio de 2020

“Se você quer estar com alguém a quem ama, já não está lá?” Richard Bach


Em minha mensagem de final de ano, em 2019, escrevi um texto intitulado “O Príncipe”, cuja motivação surgiu após reler O Pequeno Príncipe do grande Exupéry, neste eu termino convidando a todos lerem ou relerem o livro, e com a seguinte mensagem:
“Afinal, somos todos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos”.
Creio que o momento atual, além do “exercício” providencial das mais diversas emoções advindas de convívios diuturnos, em função do isolamento, além de reflexões existenciais quanto ao que realmente faz “sentido” ou importa, é também propício para novas leituras e novas releituras.
Aqui, na soleira do Atlântico Sul estamos em isolamento social, #fiqueemcasa”, em período de grande estiagem, o que é bem preocupante, a Nala está no cio, o friozinho sulista está batendo a nossa porta nos convidando ao aconchego, ao vinho, ao café e ao caldo e um dia das mães atípico se aproxima, em um momento onde o "distanciamento" é um ato de amor, em um momento o qual nos vemos diante de uma profunda interrogação existencial.
Pensando em escrever algo para as mamães, me veio os livros do Richard Back, que similar a Exupéry, também adora "brincar" com as metáforas.
Entendo que O Pequeno Príncipe está para Exupéry assim como Fernão Capelo Gaivota está para Richard Back. Leituras que nos levam a belas reflexões, como o momento atual.
Especificamente, em função do dia das mães e de nosso momento COVID19, me veio a lembrança de “Longe é um lugar que não existe”. O livro começa com o autor pegando "carona", para ir ao aniversário de Rae, com algumas aves e sendo “questionado” quanto a obviedades humanas bastante “questionáveis”.
Quem leu o livro, eu não farei spoiler , deve estar pensando:
- O que tem a ver o livro com o dia das mães?
Em um momento, no livro, há o seguinte diálogo:
“Rae........você......Não é filha a quem chama de mãe e pai, mas a companheira de aventura delas na jornada maravilhosa para compreender as coisas que são”
Esta definição da relação mãe filha, ou pais filha, no meu entendimento, é providencial, pois todos somos companheiros de jornada, independente da relação parental. Todos estamos buscando o equilíbrio na linha tênue do aprender a conviver para evoluir. Nosso primeiro “companheiro” de jornada nos carrega no ventre, sente os efeitos físicos e biológicos devido a transformação do corpo ao gerar outro corpo, sente dor na alegria do nascimento e tem a sublime tarefa de nos conduzir a “compreender as coisas que são”. 
Independente do "gerar outro corpo", em outros relacionamentos, o primeiro “companheiro” não experiencia as emoções do feto no ventre, mas realiza igualmente a sublime tarefa de nos conduzir a “compreender as coisas que são”. Afinal "O laço que nos une não é o de sangue, mas sim o de amor e respeito da vida de um para com o outro'". Algo que nos foi ensinado, e infelizmente ainda não assimilado, há 2020 anos.
Enfim, para minha mãe, para a Lu e para todas as mães, neste momento tão “genuíno” de nossa existência, segue uma mensagem adaptada de um texto, do belo e emocionante livro do Richard Back.
“Haveremos de nos encontrar sempre, no ontem, no hoje, no amanhã, no aqui e no agora, fisicamente ou virtualmente, sempre que desejarmos, no meio da única comemoração que não pode jamais terminar. A comemoração da vida!”

https://www.youtube.com/watch?v=xT8HIiFQ8Y0

quinta-feira, 30 de abril de 2020

1º de Maio de 2020



Estávamos no momento “chá das 17h” que na versão tupiniquim é café e a Lu me mostrou um texto bem legal, que foi replicado virtualmente sem autoria e cujo tema é o mês de abril e começa assim:

Quase findando ABRIL
Um ABRIL que não abriu....

Comecei então a pensar sobre o fim de abril e me veio naturalmente o início de maio, o 1º de Maio, o dia do Trabalho, o dia do Trabalhador, um dia que começou a ser eternizado a partir do fim do século XIX, com vários fatos que ocorreram no mundo, que implicaram em mortes de trabalhadores devido a protestos e passeatas reivindicando, basicamente, cargas horárias de 8h/dia e não mais as 15, 16 ou 17 horas de “escravidão remunerada”. Ressaltando que na China o papo, sempre, foi outro.
Iniciei minha vida profissional em 1975 e até o fim do século XX, participei de várias passeatas, greves e outras manifestações, visando melhores condições de trabalho, ganhos salariais etc. Na década de 80, depois de uma divisão “política ideológica” surgiram CUT e CGT, as grandes centrais sindicais (qualquer semelhança das centrais sindicais com tendências ideológicas de esquerda e de direita, não é mera coincidência). Uma época, eminentemente, “analógica” e na minha opinião bem mais criativa, mais poética, mais romântica.
O mundo se transformou ou nos transformou e nós transformamos o mundo, em todos os sentidos, rapidamente, dinamicamente nos últimos 20 anos e nossas relações, em todos os sentidos, passou por um “upgrade” comportamental notadamente no tocante ao que podemos ou poderíamos chamar de relação de trabalho e relação de emprego. Antigas profissões não mais existem, outras rapidamente deixarão de existir e novas profissões surgem sistematicamente. Com essa efemeridade profissional vieram as alterações na legislação visando atender ao modelo econômico vigente.   
Além de toda essa mudança radical, veio a Pandemia e o que era pouco certo ficou muito duvidoso, pensando em “vínculo empregatício” e em empreendedorismo ( acho bem intrigante/preocupante essa corrente empreendedora) , principalmente nas terras tupiniquins cujo chefe do poder executivo é irracional, sendo este, na minha opinião, o adjetivo que melhor o qualifica.
Infelizmente, pensando no 1º de Maio de 2020, teremos pouco ou nada a comemorar e um dos grandes desafios contemporâneos será a redefinição ou adequação ou adaptação da relação trabalho & trabalhador dentro de um modelo econômico que urge ressignificar.
Neste 1º de Maio de 2020, minhas reverências aos profissionais da saúde, da segurança pública, da limpeza urbana, dos mercados, da agricultura, do transporte enfim todos aqueles que se expõem visando garantir nossa resiliência diante da Pandemia.
Neste 1º de Maio de 2020, minhas reverências aqueles que se dedicam ao auxílio, em todos os sentidos, as populações de vulnerabilidade social, a população de rua etc.
Neste 1º de Maio de 2020, minha solidariedade aqueles que estão tendo seus contratos de trabalho suspensos, aqueles que perderam seus empregos, aqueles que perderam a condição de garantir o sustento, aqueles que não podem mais vender o almoço para comprar o jantar.
Neste 1º de Maio de 2020, que o Pai nos conceda um amanhã melhor que o hoje, que a esperança embale a certeza de que iremos superar e que a cura e o auxilio irão chegar.
Neste 1º de Maio  de 2020, segue um link de uma canção que marcou uma época, que fala de trabalho, de esperança, de amizade e de oração.


"Gente de mano caliente
Por eso de la amistad
Con um lloro para llozarlo
Con um rezo para rezar
Con un horizonte abierto
Que siemore esta más alla
Y esa fuerza pa buscarlo
Con tezón y voluntad
Cuando parece más cerca
Es cuando se aleja más
Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar" Athaualpa Yupanqui

sábado, 4 de abril de 2020

Ensinamentos


Somos predadores por excelência, ou éramos?
Creio que ainda somos, mas de um modo mais "silencioso", mais egoísta, mais cômodo.
A sacola plástica, as hastes flexíveis, as garrafas pet, as construções ilegais e por aí vai. Nossa contribuição perene para destruição de Rios, Mares, Florestas, do planeta.
Antes, dizimávamos tribos, culturas, crenças; a relação cruel do colonizador para com o colonizado, em nome do mundo "civilizado", em nome de Deus.
Hoje, embalados por algoritmos, por "mensagens" subliminares e pelo modelo econômico dominante, consumimos, consumimos e consumimos; jogando na natureza aquilo que se tornou "obsoleto".
Nesse ritmo, permanecemos em nossa linha de conforto, praticando o que condenamos na teoria, no discurso.
Mas por acaso, por destino ou por desígnios de Deus, a repetição é proposital, surge o vírus, o Cavaleiro do Apocalipse do mundo contemporâneo, nos mostrando que somos todos iguais perante sua "crueldade".
Agora o Mundo Globalizado, além da tecnologia, dos produtos com valor agregado, das commodities etc, também nos oferece um vírus para consumo.
Diante deste fato além do "de onde viemos" e do "para onde vamos", surge um novo questionamento existencial: porque o vírus? 
O mundo sempre conviveu e disseminou epidemias:gripes, varíola, sarampo, catapora etc e talvez em todas essa circunstâncias de "flagelo" humano, tenham ocorrido várias reflexões em relação ao comportamental, ao "ser" humano e que com certeza se dissiparam após um 31 de dezembro qualquer.
Nosso Cavaleiro, nos impõe ou nos pune com o isolamento e com o medo, nos levando ao "E agora José, com a chave na mão quer abrir a porta, mas não existe porta" do grande Drummond ( tenho certeza que poetas são "intuídos").
Nosso Cavaleiro, nos oferece o exercício do amor, da paciência, da doação, da benevolência, da caridade, da perseverança, da fé, nos oferece a oportunidade de sermos Humanos, diante de sua espada.
Nosso Cavaleiro nos oferece a oportunidade de realizar " A dificílima dangerosíssima viagem, de si a si mesmo: Pôr o pé no chão do seu coração, experimentar, colonizar, civilizar, humanizar o homem, descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene insuspeitada Alegria de con-viver" outra "intuição" de Drummond.
Enfim, estamos diante de nossos medos, de nossos espelhos, de nossas verdades e de nossas mentiras.
Estamos diante da efemeridade de nossas existências onde a morte é nossa certeza inexorável.
Nos cabe, quem sabe, aproveitar os ensinamentos traduzidos em versos, em atitudes e em metáforas , "arrumar a casa", praticando a contrapartida para o acolhimento que nossa mãe natureza nos oferece.
Nos cabe o reaprender a ouvir, a se colocar no lugar do outro.
" Se eu pudesse deixar algum presente à você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos. A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora. Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem. A capacidade de escolher novos rumos. Deixaria a você, se pudesse, o respeito aquilo que é indispensável. Além do pão, o trabalho, Além do trabalho , a ação. E quando tudo mais nos faltasse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída." Mahatma Gandhi.

#fiqueemcasa.






sexta-feira, 6 de março de 2020

Ana, Luíza e Beatriz

       
         Em algum momento, de um oito de março, em um ano qualquer.

        Ana chegou confusa, 
        Difusa, como que sem rumo
        Um tanto quanto sozinha
        Pensando dominar seu destino
        Desafiou o mundo
        Perdeu seu caminho
       
        Se tornou Luíza
        Alegre e obtusa
        Se fez criança
        Obediente e pura
        Menina ou adulta, o que ser?
        No clamor do corpo, se fez "prazer"

        Mulher, se fez Beatriz
        Feiticeira, sensual e segura
        Pronta para "briga"
        Nem sempre se ganha
        Nem sempre feliz
        Uma hora, um minuto
        Perda de tempo, será?
        Que nada, é preciso dissimular
        Na tristeza, na alegria, no amor
        Fingir! Se necessário for

        Colocou seu tesouro na mochila, saiu pela vida
        Falava de política, usava roupas coloridas 
        E até experimentou umas viagens nos baseados das esquinas
        Fez muitas coisas, estudou , se formou e até foi atriz     
        Ela não tem ódio no coração
        Ela espalha serenidade e maturidade 

        Mas não deixou de ser menina e meiga
        Ela transborda uma beleza peculiar
        A tonalidade certa do batom, do esmalte e do blush
        Ela inventou seu momento e seu lugar
       
        Ana, Luíza e Beatriz
        Mulheres sozinhas? As vezes não
        Talvez um momento
        Ou quem sabe tesão
        Um orgasmo contido, o orgulho ferido
        O Macho querido
        Aonde está o amigo?
        Um beijo, um carinho
        Um afago, um abraço
        Será solidão, ou apenas cansaço
        Coração de vidro, virou estilhaço
       Solidão que sonha, que espera e seduz
       Uma mulher que vive e que acontece    
       Simplesmente, chama de luz!


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

WAVE


Estávamos em dezembro de 2006 e eu já estava no saguão do Aeroporto Hercílio Luz, aguardando a chegada do voo. Eu estava ansioso por vários motivos e o principal era:
- Como a Lu e os meninos se adaptariam a vida em Floripa? Outra terra, outra cultura, outro clima etc. Migrar do cerrado do DF para o litoral catarinense, deixando amigos, parentes, a casa etc, não era algo trivial.
Não saberei descrever a fisionomia deles quando nos encontramos no desembarque do aeroporto. Levei para cada um dos TH’s camisetas com slogan “Bem vindos a Floripa” e para Lu rosas.
Rumamos para o apartamento novo no Parque São Jorge após um inconveniente no aeroporto: a mala do TH mais velho havia sido extraviada. Só recebemos a mala 45 dias depois.
Enfim, casa nova, escola nova, novos amigos, novos vizinhos, novos sotaques e toda aquela gama de surpresas, emoções, alegrias, tristezas, saudades, decepções, conquistas etc, que permeiam nossas vidas, com o “agravante” da mudança geográfica.
Pensando em dar um incentivo aos Th’s, fomos fazer aulas de surf na Barra da Lagoa. Foi muito legal fazer aulas com os meninos. Pensei que eles iriam se envolver com a prancha, o mar, mas não rolou. Fizeram as aulas e somente o TH mais velho ainda tem uma prancha, que eu comprei do meu bruxo Cezar, o paulista que acha que é gaúcho.
Passado algum tempo ainda fiz aulas de Wind e de bodyboarding. Em uma das aulas de wind, na Lagoa, a vela caiu e eu fiquei embaixo dela. Imaginem a cena.
Passados 14 anos, estamos adaptados na soleira do Atlântico Sul, no meu querido Pântano do Sul, um lugar que chamo de “meu”, uma pretensão de um carioca que um dia foi gaúcho, outro dia foi candango e atualmente é um “manezinho”. Amanhã, quem sabe o que será ?
Bem, hoje depois de meu passeio matinal com minha querida Nala, e meu café da manhã, claro, peguei minha pranchinha de boby, meu pé de pato e fui relembrar as aulinhas que fiz na praia Brava.
O mar estava relativamente tranquilo, ondinhas de 0,5 a 1 metro, período das ondas de 5 segundos, água 25 graus e vento sul. Fiquei ao lado da galera que faz aula de surf e tomei muita “porrada” das ondas. Para atravessar a arrebentação estava aquela dificuldade, principalmente para quem tem 62 anos, pino no ombro esquerdo, placa no pé direito e não pratica o esporte há uma data. Enfim, foi muito legal. Em um determinado momento, uma menininha conseguiu pegar uma onda com sua pranchinha e eu estava “lutando” na arrebentação. Eu olhei para ela, ela sorriu, estava super feliz pois conseguiu dropar a onda.
O surf é um esporte mágico, a busca perene da onda perfeita e quando ela chega e o surfista consegue “domá-la”, como se doma um cavalo chucro, aqueles 5, 10, 20, 30 segundos, deslizando na onda, são de êxtase, de equilíbrio, de harmonia com a natureza.
Penso em fazer aulas de surf de novo, afinal o mar está todos os dias a nos convidar para o desafio do drop, enquanto isso vamos na pranchinha de body que também me permite momentos de êxtase, quando consigo pegar uma ondinha.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Bom dia Vietnã



E aí nômades e nativos, quanto tempo! “
Para aqueles que não sabem o “E aí nômades e nativos” é tipo um “Good Morning Vietnã”, guardando as devidas proporções, é claro. Era o “jargão” de meus e-mails semanais para galera do Centro de Gerência, que não era o Rio Mekong, mas também tinha muita “emoção”.
Creio que alguns gostavam de meus e-mails, outros achavam que era um monte de bobagens e os demais achavam que eu era doido.
Enfim, hoje levantei as 6, fui passear com a Nala e o amanhecer no Atlântico Sul estava embalado nos braços do vento NNE. Normalmente ventos norte-nordeste deixa o mar “sujo”, ou tipo caldo de cana, não é sujeira é uma corrente que vem do fundo do mar para superfície e aí a areia do fundo sobe, algo tipo ressurgência e a água estava, vamos dizer, geladinha.
Depois do passeio com a Nala bateu o rango, tomei meu café e depois fomos, eu e a Lu, ver se a água do mar estava salgada.
O mar estava com aquelas ondinhas básicas e bem legal para pegar um jacarezinho. Montamos nosso guarda sol, cadeiras, a Lu encontrou umas amigas e ficamos no papo e apreciando o mar.
Sempre observo o mar antes de entrar na água, vendo como está a sinalização dos bombeiros, e sempre entro onde não estão as bandeiras vermelhas, de preferência onde está a bandeira verde. Entrei na água e bateu o arrepio natural devido a temperatura. Depois do primeiro mergulho, ficou tudo de boa e comecei a brincadeira de “cavalgar” nas ondas e disputando espaço com os surfistas. Um jacarezinho aqui, outro ali e a brincadeira estava bem divertida. Marquei bobeira e de repente caí em um buraco, até aí tudo bem, quando subi esperei a onda para embalar em mais um jacaré, só que a coisa começou a ficar um pouco complicada pois caí na corrente de retorno. Olhei para direita não tinha ninguém, olhei para esquerda tinha dois surfistas e lá no “horizonte” o posto de salva vidas. Vamos lá, nadei e tentei pegar carona em uma onda, mas a correnteza começou a me puxar, pensei:
- Meu Jesus Cristinho, fudeu!
Bem comecei a lembrar das dicas para “sobreviver” nas correntes de retorno (não lutar contra a correnteza, manter a serenidade, nadar paralelo a areia da praia ou deixar a correnteza te levar, pedir ajuda)  e com tranquilidade e a ajuda de uma ondinha enviada pelo acaso, pelo destino ou pelo Papai do Céu, consegui sair do buraco. Coisa linda!
Bem, esta foi minha pequena aventura do dia.
A guerra do Vietnã, como atualmente a guerra da Síria, do Iraque, da Palestina os conflitos perenes na África etc., visam atender aos mais diversos interesses políticos e econômicos em um mundo de ideologias hipócritas.
Que, em um futuro próximo, “nossas lutas” se resumam em ter a serenidade para “dialogar” com a “natureza” e sair de uma “corrente de retorno”, pois quando brigamos com a natureza, todos perdemos.
Uma bela semana para todo mundo.