Entramos no cinema e uma
expectativa natural se fazia presente, notadamente na Lu ( candanga por amor e
nascença ) e em mim (candango por amor e opção). Me chamou a atenção o público
presente na sala de exibição cujas idades variavam dos 13 aos 60.
A película
começou ao som de “Tempo perdido” e a
esplanada dos ministérios como pano de fundo. Bateu um mix de nostalgia,
saudade e em poucos segundos um turbilhão de pessoas, lugares e momentos povoaram
minha mente e meu coração. Logo em seguida aparece o “Renato” de camelo e seu
jeito “peculiar” de ser, interessante como o ator lembra o Renato.
Durante os 104 minutos de filme
revivemos nossa época de “quadradinho do serrado”.
Cheguei pela primeira vez no
DF, um lugar diferente de todos os quais eu já havia conhecido e com uma “sintonia”
que não consigo explicar, em janeiro de 1983, nesta época convivi com alguns
carinhas muito legais, Alfredo e Kátia, Lineu, Alexandre, Luiz Antônio, Liana,
Rubinho, Petrônio, a galera da SESA e com a galera local, a Lu, Lucimar,
Fernando, Farofa, etc. Frequentávamos os clubes, as festinhas e o som que
rolava era Legião, Plebe, RPM, Paralamas, Capital e por aí vai.
Após um período fora retornei em
1986 e saímos em 2006. Nesses 20 anos, com outros carinhas muito bacanas , (aqui
não vou citar nomes pois corro o risco de esquecer alguém) tivemos o privilégio
do convívio e continuamos a curtir as mesmas bandas by DF.
Como Eduardo e Mônica, eu e a Lu
começamos nossa história, tivemos nossas crias, seguramos algumas barras,
brigamos algumas vezes e hoje estamos vendo a história do Renato e com saudades
daqueles que lá estão .
Para mim Renato é o maior e mais
expressivo poeta urbano contemporâneo, que sabia como ninguém traduzir as
questões existenciais em versos e músicas; bem interessante constatar, através
do filme, como o Renato fazia seu “laboratório” para escrever coisas belas,
fortes e profundas.
Como todo artista na essência,
Renato viveu em um mundo cujos valores o impeliam para a inconformidade, devido
a essa coisa vazia e insipiente que caracteriza o mundo do final do século XX e
perpetua no século XXI.
Talvez Renato não tivesse “sexo”
definido, pois em seu mundo a
afetividade superava o fisiológico e as demonstrações de afeto são
independentes de gênero. Em sua história a pessoa mais importante foi uma
amiga, cujo relacionamento transcendia ao que poderíamos chamar de um
relacionamento “normal”, pois a cumplicidade dos dois era algo muito mais
além do, vamos dizer, convencional.
Renato teve vários insights e tentou, através de suas
músicas, nos apresentar alguma consciência holística; além de nos mostrar em
Faroeste Caboclo a realidade violenta da periferia urbana, entendo que Renato
queria nos deixar algo mais belo, humano
e sensível, ou seja, que vale a pena apostar no amor embora para muitos
isto possa parecer piegas.
Na próxima quarta eu, a Lu e o Th
mais novo iremos conferir Faroeste Caboclo e eu espero descobrir porque
Maria Lucia se casou com Jeremias.....