quinta-feira, 27 de junho de 2019

Floripa e o emissário


Chegamos em Florianópolis em 2006, e inicialmente fui morar na Lagoa da Conceição. Nos primeiros três meses fiquei sem a família pois os meninos ficaram, em Brasília, para terminar o ano letivo e a Lu ficou resolvendo várias questões: planejar a mudança, resolver sua transferência etc.
O início de minhas atividades em Floripa foi o desafio para adequar e ajustar o processo de centralização de nossas atividades no Centro de Gerência da empresa de tecnologia a qual eu trabalhava. Muito trabalho, novos desafios, quebra de paradigmas, integração de pessoas/equipes, adoção de novos processos e procedimentos. Nas horas de folga, eu e alguns amigos (todos “haloe”), fazíamos as famosas trilhas: Lagoinha do Leste, Naufragados, Lagoa e passeávamos pelos quatro pontos cardeais conhecendo as belas praias e paisagens da ilha.
Quando a família chegou fomos morar no Parque São Jorge, depois jardim Anchieta e atualmente vivemos no querido Pântano do Sul.
Nos últimos 13 anos o que mais me chamou atenção foi o crescimento imobiliário/populacional do Campeche, da bacia do Itacorubí e dos Ingleses. Prédios, residências, comércio ou seja; a impermeabilização e verticalização da ilha que tem sérios problemas de mobilidade, não tem rede de esgotamento sanitário, proliferação de construções irregulares e todas as mazelas pertinentes a falta de planejamento urbano e irresponsabilidades dos poderes Legislativo e Executivo.
Atualmente está sendo apresentado pelos profissionais da CASAN, empresa concessionária do setor de saneamento, o projeto para implantação do Sistema de Disposição Oceânica dos Efluentes Tratados, e como não poderia deixar de ser o tema está causando insatisfação, incerteza, polemica e questionamentos por parte de lideranças do sul da ilha e comunidades em geral.
Independente do julgamento de valor referente a qual solução deveria ser dada para o tratamento do esgotamento sanitário na ilha, mesmo porque sou leigo no assunto, farei algumas considerações sobre o tema:
- Na II Conferência Municipal de Saneamento realizada nos meses de abril, maio e junho de 2018, não foi feita nenhuma menção sobre este projeto por parte da CASAN ou da prefeitura. Eu participei da Conferência. Cabe ressaltar que segundo a CASAN este projeto vem sendo estudado há no mínimo 10 anos.
- Existem vários estudos anteriores que apresentam soluções descentralizadas para tratamento do esgotamento sanitário, que não foram apresentadas pela CASAN, o que permitiria um comparativo em relação ao custoxbenefício das opções existentes.
- Na apresentação da CASAN não é explicitado a capacidade por habitante da Estação de Tratamento de Esgoto do Rio Tavares que está sendo implantada e nem qual população será atendida pela solução a curto, médio e longo prazos.
- Não foi apresentado pela CASAN indicadores de avaliação do sistema de esgotamento sanitário e ETE’S em operação na ilha.
- Não foi debatido com as comunidades a concepção geral do Sistema de Esgotamento Sanitário a ser implantado/projetado na ilha.
- Na reunião da Frente Parlamentar realizada no plenarinho da câmara e na reunião ampliada da Frente Parlamentar realizada na Escola vereador Oscar Manoel da Conceição não compareceram representantes da prefeitura. Cabe ressaltar que a Lei Federal nº 11.445/2007 estabelece que é de responsabilidade do Município o planejamento do saneamento básico, ou seja, nos causa no mínimo estranheza a não participação da Prefeitura nas referidas reuniões.
Durante um período de minha vida profissional, participei de reuniões onde utilizávamos algumas ferramentas como metodologia para avaliar e analisar propostas de projetos, uma dessas ferramentas foi a 6w3h, ou seja:
Por que vamos fazer este projeto?
O que vamos fazer?
Onde vamos fazer?
Quem irá fazer?
Para quem vamos fazer?
Quando vamos fazer?
Como vamos fazer?
Quanto será gasto?
Quanto treinamento será realizado?
Entendo que uma forma didática para apresentar as propostas de saneamento centralizada e descentralizada, com emissários e sem emissários, com reuso e sem reuso etc, seria a adoção de uma metodologia como a 6w3h. Seria mais fácil para o entendimento geral de todos ficando mais claro as opções e tecnologias existentes e a relação custoxbenefício das mesmas. Ressaltando que para a apresentação é imprescindível a participação do município, independente de quem irá apresentar.
Enfim, não é uma questão de ser a favor ou contra e sim transparência nos esclarecimentos quanto a necessidade de adoção de uma solução, A ou B, que venha garantir nossa sustentabilidade, nossa qualidade de vida e nosso ecossistema. Não podemos vislumbrar soluções futuras sem solucionar o legado nocivo do passado e presente, sendo esses de responsabilidade dos poderes públicos, dos empresários e da comunidade.