Chegamos em Florianópolis em
2006, e inicialmente fui morar na Lagoa da Conceição. Nos primeiros três meses
fiquei sem a família pois os meninos ficaram, em Brasília, para terminar o ano
letivo e a Lu ficou resolvendo várias questões: planejar a mudança, resolver sua
transferência etc.
O início de minhas atividades em
Floripa foi o desafio para adequar e ajustar o processo de centralização de
nossas atividades no Centro de Gerência da empresa de tecnologia a qual eu
trabalhava. Muito trabalho, novos desafios, quebra de paradigmas, integração de
pessoas/equipes, adoção de novos processos e procedimentos. Nas horas de folga,
eu e alguns amigos (todos “haloe”), fazíamos as famosas trilhas: Lagoinha do
Leste, Naufragados, Lagoa e passeávamos pelos quatro pontos cardeais conhecendo
as belas praias e paisagens da ilha.
Quando a família chegou fomos
morar no Parque São Jorge, depois jardim Anchieta e atualmente vivemos no querido
Pântano do Sul.
Nos últimos 13 anos o que mais me
chamou atenção foi o crescimento imobiliário/populacional do Campeche, da bacia
do Itacorubí e dos Ingleses. Prédios, residências, comércio ou seja; a
impermeabilização e verticalização da ilha que tem sérios problemas de
mobilidade, não tem rede de esgotamento sanitário, proliferação de construções
irregulares e todas as mazelas pertinentes a falta de planejamento urbano e
irresponsabilidades dos poderes Legislativo e Executivo.
Atualmente está sendo apresentado
pelos profissionais da CASAN, empresa concessionária do setor de saneamento, o
projeto para implantação do Sistema de Disposição Oceânica dos Efluentes Tratados,
e como não poderia deixar de ser o tema está causando insatisfação, incerteza,
polemica e questionamentos por parte de lideranças do sul da ilha e comunidades
em geral.
Independente do julgamento de
valor referente a qual solução deveria ser dada para o tratamento do
esgotamento sanitário na ilha, mesmo porque sou leigo no assunto, farei algumas
considerações sobre o tema:
- Na II Conferência Municipal de
Saneamento realizada nos meses de abril, maio e junho de 2018, não foi feita
nenhuma menção sobre este projeto por parte da CASAN ou da prefeitura. Eu
participei da Conferência. Cabe ressaltar que segundo a CASAN este projeto vem
sendo estudado há no mínimo 10 anos.
- Existem vários estudos
anteriores que apresentam soluções descentralizadas para tratamento do
esgotamento sanitário, que não foram apresentadas pela CASAN, o que permitiria
um comparativo em relação ao custoxbenefício das opções existentes.
- Na apresentação da CASAN não é
explicitado a capacidade por habitante da Estação de Tratamento de Esgoto do
Rio Tavares que está sendo implantada e nem qual população será atendida pela solução
a curto, médio e longo prazos.
- Não foi apresentado pela CASAN
indicadores de avaliação do sistema de esgotamento sanitário e ETE’S em operação
na ilha.
- Não foi debatido com as
comunidades a concepção geral do Sistema de Esgotamento Sanitário a ser
implantado/projetado na ilha.
- Na reunião da Frente
Parlamentar realizada no plenarinho da câmara e na reunião ampliada da Frente Parlamentar
realizada na Escola vereador Oscar Manoel da Conceição não compareceram
representantes da prefeitura. Cabe ressaltar que a Lei Federal nº 11.445/2007 estabelece
que é de responsabilidade do Município o planejamento do saneamento básico, ou
seja, nos causa no mínimo estranheza a não participação da Prefeitura nas
referidas reuniões.
Durante um período de minha vida
profissional, participei de reuniões onde utilizávamos algumas ferramentas como
metodologia para avaliar e analisar propostas de projetos, uma dessas
ferramentas foi a 6w3h, ou seja:
Por que vamos fazer este projeto?
O que vamos fazer?
Onde vamos fazer?
Quem irá fazer?
Para quem vamos fazer?
Quando vamos fazer?
Como vamos fazer?
Quanto será gasto?
Quanto treinamento será
realizado?
Entendo que uma forma didática
para apresentar as propostas de saneamento centralizada e descentralizada, com
emissários e sem emissários, com reuso e sem reuso etc, seria a adoção de uma metodologia
como a 6w3h. Seria mais fácil para o entendimento geral de todos ficando mais
claro as opções e tecnologias existentes e a relação custoxbenefício das mesmas.
Ressaltando que para a apresentação é imprescindível a participação do
município, independente de quem irá apresentar.
Enfim, não é uma questão de ser a
favor ou contra e sim transparência nos esclarecimentos quanto a necessidade de
adoção de uma solução, A ou B, que venha garantir nossa sustentabilidade, nossa
qualidade de vida e nosso ecossistema. Não podemos vislumbrar soluções futuras
sem solucionar o legado nocivo do passado e presente, sendo esses de
responsabilidade dos poderes públicos, dos empresários e da comunidade.