terça-feira, 13 de outubro de 2020

Rabiscando os 63.

                                               Foto do mago das lentes Milton Ostetto

Quando fiz cinquenta anos, rabisquei umas frases intituladas: Um novo Cinquentar.

Quando fiz sessenta anos, rabisquei outras frases intituladas: E se você descobrisse que morreria na semana que vem, o que farias?

Neste embalo, iria rabiscar outras frases aos setenta anos, mas a ressignificação oferecida pela Pandemia me fez, também, rabiscar os 63.

O momento atual se tornou “fértil” para as mais variadas "crises" existenciais, que oscilam entre pessimismos, otimismos e até indiferenças, e dependem de uma quantidade enorme de variáveis que deixaram de atender nossas expectativas e novas variáveis que nos desafiam ao reaprender fomentado pelas exceções, entendendo a palavra como : desvio de um padrão estabelecido, rompimento do que se considera normal.

Nas terras tupiniquins, pensando em políticas públicas, a Pandemia teve “conotações” das mais diversificadas, surpreendentes e irresponsáveis, possíveis; e aqui não irei mencionar os devaneios do governo federal que extrapolaram, o que resumirei bondosamente, em : inexistência de bom senso, ou seja, falta de equilíbrio nas decisões ou no julgamento em cada situação que se apresenta.

Desde março, sonhos não foram realizados, projetos foram interrompidos, negócios foram cancelados, empregos foram perdidos, o stress profissional migrou para o lar, ratificamos o convívio como nosso maior desafio, vidas "anteciparam" suas mortes, o virtual se fez onipresente, o recomeçar se fez desafiador, o início ficou bem mais difícil.

Desde março, somos testemunhas e/ou atores de belas ações de solidariedade, de mobilizações para ajudar aos mais carentes e vulneráveis, de uma demonstração universal do profissionalismo e dedicação dos trabalhadores da saúde frente a Pandemia.

Desde março o CH3CH20H e suas nuances tornaram-se nosso aroma predileto e a máscara, das mais variadas "versões", tornou-se item obrigatório de nosso vestuário.

Desde março, os defensores e praticantes do modelo liberal mundial estão "aprendendo" que saúde, assistência social e educação, notadamente, não "sobrevivem" sem ajuda e ações daqueles que governam, independente de frágeis ideologias.

Desde março, somos personagens de uma possível ficção, do grande Saramago, na vida real.

No vivenciar dessas situações e respectivas consequências, o que mais me surpreende, diante da Pandemia, é o comportamental humano no tocante ao que eu chamaria de: a dicotomia do ser.

Uma parte da população assimilou a necessidade de uma visão holística do mundo, o olhar para com o outro, a solidariedade, a compaixão, a doação. A certeza de que o “eu” sem “você”, nos remete a um mundo efêmero, sem perspectivas, sem evolução, sem sentido.

Outra parte da população acredita que a terra é plana, uma 460 S&W Magnum nos livra de todo o mau/mal, a Pandemia é um resfriado, usar máscaras é para os fracos etc. A certeza de que o “eu” sem “você”, nos remete a um mundo perene, seguro, soberano, evoluído, perfeito.

E uma outra parte não concorda e nem discorda, muito pelo contrário, o importante é o que interessa, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Independente de posicionamentos tão paradoxos, a Pandemia nos obrigou a encarar nossas incoerências, nossa “teogonia” (pensando na criação do universo), nossa relação com a solidão, nossa unicidade, nossos anjos e nossos demônios, nosso “equilíbrio” entre o desejo e a necessidade. Com a chave na mão queremos abrir a porta, mas depois da porta só há incertezas.

Diante deste contexto, como seremos/estaremos na “pós” Pandemia? Sinceramente não arrisco palpites. Diante de algumas evidências e informações, prazos de validação, produção, insumos, logística etc., provavelmente teremos uma opção de vacina mais abrangente nos meses de abril, maio de 2021 e no futuro deveremos ter um combo HIN1&COVID19, ou algo similar, anualmente. Ainda estaremos embalados pelo vírus nos próximos 7, 8 ou 9 meses e até lá muitas surpresas poderão nos impor antigos e novos desafios.

Com certeza toda esta "angústia" passará, e restará a cada um de nós algo a "ressignificar" em nossas vidas, ou não. Enfim, o que eu aprendi nesses tempos de Pandemia aos 63 anos? Sem ser piegas, confesso: estou aprendendo a falar com Deus.

https://www.youtube.com/watch?v=jRY0O7t_Bpc