domingo, 16 de agosto de 2020

A "Influencer" Guerreira da Idade Média.

 

A Lu estava em um evento virtual, aliás entendo eventos virtuais como: “Eventos onipresentes contemporâneos”, e em função do tema abordado sugeriu assistirmos um filme sobre a vida de Joana d’Arc.

A história da guerreira santa é bem conhecida pela grande maioria e eu já havia visto algumas películas sobre sua vida, mas pensei:

- Por que não rever a história da Joana?

Comecei a procurar no “Oráculo” um filme sobre a guerreira e achei um filme francês produzido em 1999: The Messenger: The Story of Joan of Arc.

Falar de temas que envolvem religiões, poderes, fé, crenças, santas, guerras etc quase sempre implica em criar polêmicas, mas como o filme inundou minha mente de reflexões, inquietações e lucubrações, vou arriscar, ressaltando que minhas divagações são baseadas no filme e podem não corresponder a realidade dos fatos ocorridos na época.

O filme começa em 1420, na época da longa treta entre ingleses e franceses, algo tipo palestinos e judeus, que rolou durante 100 anos. Joana estava com oito anos e já tinha os insights celestiais pouco comuns aos “mortais”. Em um ataque desferido pelos ingleses a sua vila, Joana perde sua irmã de forma brutal e a partir deste momento sua relação com a vida terrena e espiritual muda de forma radical.

Joana começa a viver em “transe” entre o céu e a terra, entre visões e chamamentos, iniciando sua missão inspirada na libertação de seu povo oprimido, em função da relação de poder reinante na época, ou seja: Povo, Igreja e Monarquia.

Joana lidera o exército francês, e por acaso, destino ou desígnios divinos, mesmo muito jovem, inspira homens rudes ao ideal patriótico, alcançando vitórias em batalhas sangrentas. Com certeza nesta época éramos um pouco mais “bárbaros”.

Independente da trajetória de nossa heroína, durante a película, o que mais me instigou a reflexão foi seu momento derradeiro, período o qual passou no cárcere à espera da morte. Seu diálogo seria introspectivo ou com seu “inquisitor” celestial?

Este momento me lembrou o filme A Paixão de Cristo, dirigido por Mel Gibson, quando o emissário das trevas ficava “enchendo o saco” de Jesus, em seus momentos de sofrimento, tentando induzi-lo a questionamentos e dúvidas existenciais. Afinal, profetas e santos são humanos enquanto encarnados.

Na solidão do cárcere a guerreira santa põe em dúvida sua motivação divina. Afinal o quanto suas “fraquezas” humanas: orgulho, vaidade, raiva, dor se confundiam com sua fé, sua santidade, suas verdades? Seria ela uma mensageira santa ou uma guerreira vingativa?

Joana morreu na fogueira aos dezenove anos, por vingança de um monarca inglês orgulhoso, vaidoso e cruel, por omissão de um monarca francês desprezível e covarde, pela hipocrisia de uma igreja que a condenou e depois a canonizou, mas absolvida por sua consciência ou por seu “inquisitor” divino.

Independente de sua santidade, Joana inspirou seu povo a acreditar, a ter esperança, a lutar para resgatar aquilo que era seu de direito. Foi uma “influencer” de seu tempo e sofreu as consequências de sua ousadia em desejar um mundo justo e fraterno para todos.