quinta-feira, 7 de abril de 2011
Realengo e o último conversível
Há alguns muitos anos assisti um filme cujo título, se não me engano (de fato procurei o título no “oráculo digital” mas não achei informações que confirmassem minha vaga lembrança) “O último conversível” e o que mais me chamou a atenção foi uma cena, no final do filme, em que o protagonista havia deixado o conversível na rua e ao retornar constatou que haviam danificado o estofamento de seu carro. Ele comentou algo tipo :
- o tempo da ingenuidade acabou.
A trama ocorreu no final da década de 50 e com certeza o início da década de 60 estava sob o signo de uma transformação do comportamento e dos valores sociais e humanos.
Manuel Castells em seu brilhante “Sociedade em Rede” aborda sobre , o que talvez tenha sido a maior revolução ocorrida em nosso belo e confuso planeta, o Informacionalismo.
O fato trágico ocorrido na escola em Realengo, onde crianças foram as principais vítimas, comprova as consequências indiretas de um somatório de “equívocos” jurídicos, legislativos e executivos em um mundo onde, ainda, o poder financeiro e político determinam a culpa e a punição.
Vários profissionais da área de humanas, sociologia, psicologia etc serão demandados a explicar algo sobre a personalidade psico-assassina de um ser humano capaz de tamanha atrocidade e várias lucubrações fluirão das mentes governantes visando adotar ações para evitar a repetição de ocorrências similares.
Já comentei em vários posts que vivemos um modelo sócio econômico equivocado onde até os tiros em Columbine são globalizados.
O ser humano está, mais do que sempre, bem distante de valores como ética, bondade, lealdade, doação, humanização, espiritualização e bem perto do supérfluo, do eu, do meu, do prazer, do consumo.
Quando eu estava cursando o primário ( na minha opinião a lei 5692 foi também um “equívoco”) todos os alunos , antes de começar as aulas, cantavam o hino nacional e o hino da escola. Vivíamos em uma época na qual hastear a bandeira nacional era uma emoção ímpar e o sentimento de cidadania fazia parte de nosso “inconsciente coletivo”.
Quando eu estava “curtindo” meus memoráveis e adoráveis anos de Escola Técnica, costumávamos conversar e teorizar sobre o ser , o estar e o ficar. Era gratificante tentar entender e viajar nas linhas dos versos do grande Drummond .
Bem, tentando explicar o que não tem explicação, me lembrei de um belo poema do Carlos, o qual convido-os a ler até o final, refletir e constatar o quão visionários são os poetas...
O Homem; As Viagens. By Carlos Drummond de Andrade
O homem, bicho da terra tão pequeno
Chateia-se na terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a lua
Desce cauteloso na lua
Pisa na lua
Planta bandeirola na lua
Experimenta a lua
Coloniza a lua
Civiliza a lua
Humaniza a lua.
Lua humanizada: tão igual à terra.
O homem chateia-se na lua.
Vamos para marte - ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em marte
Pisa em marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro - diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus.
O homem põe o pé em vênus,
Vê o visto - é isto?
Idem
Idem
Idem.
O homem funde a cuca se não for a júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira terra-a-terra.
O homem chega ao sol ou dá uma volta
Só para tever?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o sol, falso touro
Espanhol domado.
Restam outros sistemas fora
Do solar a col-
Onizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar
Colonizar
Civilizar
Humanizar
O homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria
De con-viver.
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