Há
alguns muitos anos, li o livro “As aventuras de Tibicuera” do Erico
Veríssimo. O livro narra as aventuras,
do índio Tibicuera, que se iniciam em
1500 e terminam em Copacabana no ano de 1942, ou seja Tibicuera participa do
descobrimento, da monarquia, da independência , da abolição da escravidão, da
criação da república e por aí vai. Um
espírito “teimoso” que se faz perene, quem sabe, até os dias de hoje. Vocês
devem estar pensando:
-
Como alguém consegue viver tantos anos?
A
resposta está no capítulo “O segredo do Pajé”, onde:
“ O remédio está aqui
dentro, Tibicuera. Não há feitiçaria. O pajé gosta de ti. Ele te ensina.
Escuta. O tempo passa, mas a gente finge que não vê. A velhice vem, mas a gente
luta contra ela, como se ela fosse um guerreiro inimigo. Os homens envelhecem
porque querem. Só muito tarde compreendi isso. Tibicuera pode vencer o tempo.
Tibicuera pode iludir a morte. O remédio está aqui — tornou a bater na testa. —
Está no espírito. Um espírito alegre e são vence o tempo, vence a morte.
Tibicuera morre ? Os filhos de Tibicuera continuam. O espírito continua : a
coragem de Tibicuera, o nome de Tibicuera, a alma de Tibicuera. O filho é
continuação do pai. E teu filho terá outro filho e teu neto também terá
descendentes e o teu bisneto será bisavô dum homem que continuará o espírito de
Tibicuera e que portanto ainda será Tibicuera. O corpo pode ser
outro, mas o espírito é o mesmo. E eu te digo, rapaz, que isso só será possível
se entre pai e filho existir uma amizade, um amor tão grande, tão fundo, tão
cheio de compreensão, que no fim Tibicuera não sabe se ele e o filho são duas
pessoas ou uma só.”
É
uma “visão” bem interessante sobre o que poderíamos entender como reencarnação.
Repentinamente
esta bela ficção do Veríssimo me veio à mente outro dia quando sai para um
lanche com o Th mais novo. Fiquei observando ele dirigindo do meu lado, lembrei
de sua infância, sua adolescência e hoje na universidade. Nosso lanche foi
regado a conversas sobre temas diversos e como não poderia deixar de ser, sobre
a atual situação política do país e fiquei admirado com seu discernimento e sua
maturidade
Tenho
três filhos e o convívio com cada um deles foi, e é, um aprendizado
gratificante no qual em várias ocasiões me vi/vejo na situação de “filho” e não
de pai.
Sinceramente
não sei como “adaptar” as lições de longevidade do pajé à dinâmica da vida
contemporânea onde os relacionamentos afetivos são suscetíveis às intempéries
dos apelos ao imediatismo, ao individualismo, ao consumismo, ao narcisismo, à
disputa, ao egoísmo, ao individualismo em um mundo onde a prioridade passou a ser
utilizar a tecnologia da virtualidade para mostrar o “eu estive lá”, “eu sou
feliz”. Uma dependência emocional e “hormonal” do “like”, do “curtir” etc; mas
com certeza tem algo que não mudou, não muda e jamais mudará que é o respeito
da vida de um para com o outro, é o amor, a sinceridade, os valores, a ética, o
exemplo que devem permear os relacionamentos familiares ou não.
Hoje
além do convívio com meus filhos e minha querida Lu, tenho o privilégio do convívio
com meus pais que tem 92 anos, mais um aprendizado gratificante na minha
caminhada existencial.
Não
consigo definir a dimensão de nosso relacionamento, avo-pai-filho, mas
independente da “eternidade” de meu espírito, nosso convívio moldou o que poderíamos
chamar de “eu”.
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