Em janeiro de 1983, eu e o Luisinho partimos em nossa nova aventura profissional rumo ao Distrito Federal.
Eu e o Luis haviamos passado os últimos 03 anos nos pampas gaúchos e de Santana do Livramento a Frederico Westphalen, Santa Maria e toda a fronteira com Uruguai e Argentina montamos algumas Centrais Telefônicas e comemos muito churrasco.
Viajamos para o Planalto Central no fusca do Luis com direito a uma tremenda enchente em Belo Horizonte, aí eu descobri que o fusca é o CARRO, pois até enxuradas ele encara como fosse um barquinho.
Pausa :
- se o fusca é tão bom assim, por qual motivo foi “descontinuado” ? Of course my friend, é um carro durável e de baixo custo de manutenção, algo inconcebível no modelo sócio econômico, estruturado no consumo exacerbado, de um mundo globalizado.
Continuando....
Chegando em Brasília tive a mesma sensação do “Santo Cristo” :
“Meu Deus, mas que cidade linda.............”
A cidade denotava uma harmonia entre arquitetura e os espaços , o cimento e o verde, algo que eu jamais havia visto.
Um projeto, cuja concretização se tornou uma obra prima “disponível” para humanidade, confeccionado em tijolos e barras de ferro de Oscar Niemeyer, na democratização da ocupação dos espaços de Lúcio Costa , na harmonia com a natureza de Burle Marx e sob a batuta do “mestre de obras” Jucelino Kubitchek.
Bem, após três dias no DF, eu e Luis fomos passear no conjunto Nacional e como estava determinado pelos desígnos Universais eu a vi pela primeira vez.
Ela estava com dezessete anos, cabelos encaracolados, olhar de menina e falava uma barbaridade, aliás fala até hoje,rssssssss.
Algo que lhe era peculiar : o amor pela sua terra natal, por sua cidade. Nunca tinha visto alguém ter brilho nos olhos ao falar de seu bairro, seu lugar comum.
Com a Lu aprendi a conhecer e gostar de Brasília.
As avenidas largas, as tesourinhas, a torre de TV, o cerrado, a piscina com ondas, o parque da cidade, o clube dos Empresários, o salto do Itiquira, Chapada dos Veadeiros, o lago, o clube do Senado, o Eixo Monumental, o Palácio do Planalto, o Supremo, a Camara, o Senado, o Gilberto Salomão, o CONIC, o London Tavern, o Gates, o bar dos Amigos, o Varandas, o Xadrezinho, o Cristal, o Beirute, o Líbanus, o Francisco, o Prima, a festa dos Estados.........
As noites de lua cheia no DF são indescritíveis e algo místico e energético nos envolve, nos invade e emociona.
Continuando a minha “sina” profissional, trabalhei no Plano Piloto, no Cruzeiro, Taguatinga, Ceilândia, Sobradinho, Planaltina etc.
Vi o DF se transformar do planejado, estruturado e organizado para o crescimento desenfreado, desestruturado e com a distribuição de lotes em troca de votos.
Riacho Fundo, Recanto das Emas, Águas Claras, Samambaia, Sudoeste etc e agora o tiro de misericórdia a criação do Setor Noroeste , o maior empreendimento imobiliário do DF que segundo especialistas irá destruir os mananciais.
Vi no DF que uma maneira eficiente de institucionalização da Corrupção e enriquecimento ilítico é criar uma “representação da politiquice”.
Aliás o DF é a comprovação de que as cidades não precisam de “politiqueiros” e sim de administradores, de políticos responsáveis, de um planejamento estratégico, de um plano diretor.
Vi no DF ser criado a divisão virtual e financeira entre a velha burguesia que manda e a periferia que sofre, similar ao Rio de Janeiro, o Plano Piloto, o Lago, o Sudoeste e o Noroeste compõem a zona Sul, o “resto” é a periferia, o subúrbio, que não aperece em cartão postal.
Nesta semana a Globo News apresentou alguns programas interessantes, sobre Brasília, no arquivo N e Cidades e Soluções.
Esses programas buscaram mostrar a realidade social do DF.
Em um dos programas apareceu uma entrevista do Oscar Niemeyer, onde em um trecho ele falou :
“na época da construção de Brasília, nós almoçávamos juntos com os operários, e pensávamos em uma sociedade justa onde todos pudessem viver bem e compartilhar os mesmos espaços, aí vieram os políticos e os homens de dinheiro e ficou uma merda........”
Os fatos e a história da “evolução” da capital retratam a realidade cultural e moral de nosso povo e servem como um alerta.
Até quando vamos persistir no erro?
Brasília, terra do rock politizado,
Brasília, terra onde “Leo e Bia aprenderam a amar”,
Brasília, terra da Lu e dos TH,
Brasília, terra onde “Mônica ensinou para Eduardo coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar”,
Brasília, terra onde “Santo Cristo não conseguiu o que queria, que era falar para o presidente para ajudar a toda essa gente que só faz sofrer”,
Brasília, seja feliz minha jovem senhora,
Vou morrer de saudade....
Como disse o comunista Oscar Niemeyer:
“Não me sinto importante. Arquitetura é meu jeito de expressar meus ideais: ser simples, criar um mundo igualitário para todos, olhar as pessoas com otimismo. Eu não quero nada além da felicidade geral.”
By Brother52
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